Os últimos meses foram marcados por um aumento de preços sem precedentes no Brasil, principalmente quando se trata dos produtos importados. Esse cenário também afeta o mercado automotivo e o nosso teste da vez é com um carro deixa explícita as tristes consequências disso tudo. Estamos falando da segunda geração do Peugeot 3008 GT Pack.
A segunda geração do SUV médio da fabricante francesa chegou ao Brasil em 2017, com uma única versão custando R$ 139.990.
Mas o modelo passou por seu primeiro facelift em 2021, e desde então, é vendido em duas versões. Nosso teste foi feito com a variação top de linha GT Pack, tabelada em R$ 273.790, quase o dobro do valor de quando o modelo chegou aqui.
O conjunto mecânico permanece o mesmo de sempre, composto pelo motor 1.6 turbinado e uma transmissão automática de seis marchas que equipam o 3008 vendido no Brasil desde a primeira geração dele, introduzida por aqui em 2010.
O facelift deu ao 3008 a nova “cara” do leão que a marca introduziu em 2018 com a segunda geração do sedan 508, marcada pelos finos faróis em LED e os prolongamentos verticais luminosos desenhados para lembrar as presas de um felino feroz.
A nova grade sem moldura se integra ao novo para-choque que aboliu os faróis de neblina em favor de um desenho mais limpo. Na traseira, as novas lanternas são totalmente em LEDs e, quando apagadas, trazem lentes acinzentadas para um efeito monocromático que reforça o ar futurista do SUV.
Voltando a falar do conjunto mecânico, o famoso 1.6 THP desenvolvido em parceria com a BMW gera potência de 165 cv e torque máximo de 24,5 kgfm, despejando sua força já aos 1.400 rpm e sendo o responsável por carregar os 1.587 kg do SUV francês pelas ruas brasileiras.
O peso total assusta e é bem maior que o de seus rivais diretos, mas acredite: apesar dos doze anos de existência, o pequeno 1.6 sobrealimentado dá conta do recado e leva o 3008 sem problemas, sendo auxiliado pela excelente transmissão feita pela japonesa Aisin cujo comportamento pode ser alterado através do seletor de modos de condução.
A alavanca de câmbio é totalmente eletrônica, do tipo drive-by-wire, trazendo botões para as posições P (Parking) e M (manual), sendo que o segundo coloca a transmissão sob o controle do motorista, responsável por fazer as trocas através dos paddle-shifters no volante.
Um bom candidato seria a variante atualizada do 1.6 THP, chamada de PureTech no mercado europeu, capaz de gerar até 180 cv e 25,5 kgf.
Outra boa opção seria a motorização híbrida que outros Peugeot estrangeiros já utilizam. Elas conseguem aliar desempenho e economia de combustível de maneira exemplar, além de combinar com o esforço global de eletrificação que uniu governos e empresas na busca por zerar as emissões de poluentes.
Já o pacote tecnológico, um dos principais pontos fortes do 3008 desde seu nascimento, evoluiu mais ainda na segunda geração e recebeu alguns acréscimos no facelift.
Como novidades do facelift, a Peugeot trouxe iluminação ambiente em LEDs azuis nas portas dianteiras, tampa do porta-malas com acionamento totalmente elétrico e uma tela de 10,1 polegadas para a central multimídia.
O primeiro contato com o 3008 é um pouco chocante por conta do visual diferente. Quem vê suas linhas incomuns e suas grandes rodas de 19 polegadas com acabamento diamantado, sugere um desconforto ao dirigi-lo.
Ao entrar nele, a cabine surpreende positivamente por entregar a mesma ousadia visual e a beleza presentes no design exterior, além de um acabamento primoroso.
O cluster de instrumentos e multimídia conta com telas de alta definição e executa breves animações de início no ato da partida.
Consulte o histórico do veículo e evite problemas na hora da transferência!
Apesar de ser parrudo, ele se comporta com bastante esperteza e um dinamismo que só não é melhor por conta do dispensável eixo de torção na traseira onde deveria haver um sistema de braços independentes. Ainda assim, o nível de conforto também é alto, nos fazendo esquecer do tamanho das rodas que pedem pneus mais finos.
O que também deixa a condução mais agradável é o volante pequeno e o banco dotado de massageadores nas costas, uma exclusividade da categoria que ajuda a aliviar a tensão do caos urbano diário, oferecendo diferentes estilos de massagem em três níveis de intensidade para cada um.
Em contrapartida, os bancos traseiros até conseguem acomodar com conforto, mas o assento é exageradamente baixo e o espaço para as pernas é limitado por conta do volume excessivo dos bancos dianteiros.
Voltando a falar de tecnologia embarcada, os faróis inteligentes são sensacionais, pois adaptam a distribuição do facho de acordo com a velocidade do veículo.
Se estiver lento ao andar por vias urbanas, por exemplo, o feixe de luz fica mais largo e com menor alcance frontal. Já em uma rodovia viajando a velocidades mais altas, o feixe de luz é ajustado para alcançar uma distância maior à frente e fica mais estreito, a fim de concentrar a visão do motorista no trajeto imediatamente à frente.
Outro ponto alto é o sistema de som da francesa Focal que pode até ser uma marca desconhecida para a grande maioria dos brasileiros, mas que atua desde 1979 e é muito tradicional no desenvolvimento de equipamentos de som de altíssima fidelidade para aplicações variadas, inclusive profissionais.
O 3008 foi um dos primeiros carros da história a receber um sistema de som totalmente projetado pela Focal e a qualidade impressiona, não deixando a desejar em nada para marcas mais conhecidas como Bang & Olufsen ou Harman Kardon.
Após sete dias e cerca de 350 km rodados, as impressões com o Peugeot 3008 são muito boas no geral. Nosso consumo médio foi de 14,4 km/l em percurso misto e, aliado ao bom comportamento do utilitário em todas as circunstâncias às quais foi submetido, deixou claro que o conjunto mecânico dá conta do recado – embora, ainda acreditamos que um conjunto mais moderno deveria ter sido escolhido.
Com exceção de alguns pontos como as acomodações traseiras e o sistema multimídia de interface simples demais e navegação confusa, o SUV médio agradou bastante e mostrou ter condições de competir de igual para igual com outros nomes fortes da categoria.
Seu grande ponto fraco é o preço praticado. Ser importado da França o impede de obter vantagens fiscais como as que beneficiam os valores finais do Volkswagen Taos, por exemplo, que vem importado da Argentina ou os nacionais Jeep Compass e Toyota Corolla Cross.
Nessa faixa de preço, uma boa parte dos clientes quer não apenas se diferenciar nas ruas, mas também ostentar poder aquisitivo e isso não é possível ao volante de um Peugeot, uma vez que a marca criou uma imagem de ‘popular e generalista’ diante do mercado brasileiro.
O resultado de tudo isso são as vendas pífias do 3008, emplacando 13 unidades em janeiro, 9 em fevereiro e 11 em março deste ano, segundo dados da Fenabrave.
Em suma, sem previsão de melhora do cenário econômico a curto ou médio prazo, tudo indica que o Peugeot 3008 continuará, infelizmente, sendo figura muito rara nas ruas do país, por mais repleto de qualidades que ele seja.